Myrna Silveira Brandão, de Nova York

 

A cineasta Catherine Breillat tem aparecido na mídia com frequência não apenas pela temática de seus filmes, sempre expondo a natureza explícita e realista da sexualidade feminina, mas também por ter sofrido um derrame cerebral em 2004 e, mesmo assim, continuar filmando. Nos últimos anos, mais um fato veio acrescer sua presença no noticiário em face de ter sido roubada por uma pessoa do seu relacionamento e cuja vida ela planejava retratar num filme. “Abuso de vulnerável” (“Abus de faiblesse”, no original), novo trabalho da diretora francesa, é inspirado nessa traumática experiência que viveu. O roteiro é baseado no livro  homônimo escrito por Breillat e que dá sua versão dos acontecimentos. O filme foi muito aplaudido na prévia para a imprensa do Festival de Nova York, que tem sempre um espaço em sua programação para Breillat.  Entre outros, já passaram por aqui “A última amante”, de 2007, “Barba azul”, de 2009, e “The sleeping beauty”  de 2010.

 

Na transposição da realidade para a ficção, a história segue Maud (Isabelle Huppert), uma diretora portadora de uma doença que a deixou com um lado do corpo paralisado e que se envolve numa relação destrutiva com Vilko (vivido pelo rapper Kool Shen), um homem que ela estava planejando colocar no elenco do seu próximo filme.

 

Na coletiva após a projeção – da qual participou o LABORATÓRIO POP –  Breillat falou sobre a vida real e a ficção que levou para as telas em “Abuso de vulnerável”. Leia os principais trechos:

 

Por que decidiu contar essa história?


Catherine Breillat
– Mais do que a experiência pessoal, o que realmente é importante nesta história é o fato de haver uma vítima e um algoz. Além disso, foi mais fácil explicá-la no filme do que no livro que eu escrevi. Nele, as pessoas não entendiam muito o que era essa  mistura de fraqueza e inteligência. Eu me considero uma pessoa inteligente e fui ingênua, mas ele era adorável comigo, foi muito fácil me enganar.

 

Os atores tiveram liberdade  para improvisar?

 

CB – Claro, é muito pobre que a equipe, principalmente os atores, faça exatamente o que escrevi ou planejei. Peço sempre para eles proporem algo, alguma coisa  que me surpreenda.

 

Foi necessário ensaiar antes das tomadas?

 

CB – Não, eu não costumo ensaiar. Se a primeira tomada ficar boa eu a mantenho, mesmo que saia  ao contrário do que eu tinha imaginado. Para mim uma boa tomada é a que eu chamo de uma sessão de magia em que tudo é perfeito: a forma de filmar, os desempenhos, os enquadramentos, o tempo musical. É quando a  mágica acontece.

 

Tem sido difícil filmar ultimamente? 

 

CB – Tem sido bastante difícil porque estou muito doente. Mas eu preciso continuar filmando senão fico sendo apenas uma pessoa com deficiência. O cinema é verdadeiramente minha primeira paixão, e eu preciso exercê-la para poder fazer o que não seria capaz de fazer sem ela.

 

Tem conseguido manter o seu conhecido método de filmar em pouco tempo?

 

CB – Sim, eu filmo muito rapidamente: os dois últimos trabalhos, “Barba azul” e “La belle endormie”, eu filmei  em 19 dias. “Abus de faiblesse” levou mais ou menos o mesmo tempo. As filmagens saem melhores e mais rapidamente quando a gente está sob pressão e precisa responder mais prontamente.