Myrna Silveira Brandão, de Nova York

 

 

 

journey

 

 

O cinema do diretor japonês Kiyoshi Kurosawa sempre foi muito estranho, envolvendo temas como morte, alucinações, fantasmas e que tais. O aclamado “Cure”, que ele realizou em 1997, contribuiu até para aumentar o prestígio dos filmes de horror e mistério no cinema japonês. “Rumo à outra margem”, seu novo filme – que venceu o prêmio da Mostra Un Certain Regard no último Cannes – é mais uma incursão do diretor em temas surpreendentes, desta vez abordando a questão do espiritismo.

 

Mostrado nesta terça-feira (15.09), numa concorrida sessão que deu início às prévias para a imprensa da 53ª edição do Festival de Nova York, foi recebido com estranheza, mas também com aplausos ao final.

 

Baseado no livro de Kazumi Yumoto e roteirizado por Kurosawa e por Takashi Ujita, “Rumo à outra margem” é uma espécie de viagem transcendental bem no estilo do seu diretor.

 

O filme segue Misuki, que está tranquilamente preparando seu jantar em casa, quando algo estranho acontece: seu marido, que estava desaparecido por longo tempo, retorna. Mais estranho ainda é que a surpresa de Misuki com sua volta (ele havido morrido afogado) não é pelo retorno em si, mas pela demora como isso aconteceu.

 

O filme leva à reflexão, mas para o perfeito entendimento de sua mensagem é preciso que os espectadores mergulhem na história e fiquem atentos à narração cujos diálogos, embora semelhantes, têm novos e diferentes sentidos a depender da situação.

 

Kurosawa diz que quis fazer um filme sobrenatural, mas diferentemente da forma como esses filmes costumam ser abordados.  

 

“A ideia foi mesmo fugir um pouco do gênero. Fantasmas são tradicionais em filmes japoneses de época. Eu queria abordar o assunto numa produção contemporânea, mas sem provocar muitos sustos”, afirma o diretor, que realizou mudanças na adaptação do livro de Yumoto.

 

“Procurei ser o mais fiel possível, mas para aprofundar os personagens e agir no inconsciente no público, senti necessidade de alterar algumas coisas na transposição para as telas. Mas acho que adaptar não significa necessariamente se prender à letra de um livro. É importante também desenvolver e reinterpretar sua gramática”, ressalta.

 

Kurosawa volta ao NYFF, onde apresentou “Tokyo Sonata” (2008), comédia dramática sobre o desemprego, e “Real” (2013), um filme difícil de classificar, misto de ficção científica, drama e terror.