A 97ª edição do Oscar traz uma seleção de filmes que não apenas encantaram audiências e críticos, mas também redefiniram os padrões narrativos e estéticos do cinema contemporâneo.
A seleção reflete uma diversidade de temas e estilos cinematográficos, desde dramas intimistas até ficções grandiosas – todos com narrativas poderosas. Elas valorizam o que o cinema tem de mais poderoso: a capacidade de contar histórias que fazem refletir, sonhar e, acima de tudo, sentir.
Anora – Dirigido por Sean Baker, Anora é um drama intenso que segue a história de uma jovem prostituta do Brooklyn que inesperadamente se casa com um herdeiro de uma dinastia russa. Baker, conhecido por seu olhar realista e abordagem naturalista, utiliza uma fotografia crua e cores desaturadas para capturar a atmosfera urbana e a vulnerabilidade da protagonista. A atuação visceral da estreante Mikey Madison é um dos pontos altos do filme, especialmente em cenas de confrontos emocionais, como quando sua personagem grita: “Você me disse que me amava… mas me vendeu como se eu fosse nada!” A edição rápida e os enquadramentos fechados contribuem para a sensação claustrofóbica da narrativa.
Duna: Parte 2 – A continuação da saga de Denis Villeneuve revela a grandiosidade do Cinema Épico e leva o espectador a um Arrakis (o planeta desértico onde se passa grande parte da história) ainda mais vasto e perigoso. O filme se destaca pelo design de produção imponente e pela fotografia etérea de Greig Fraser, que utiliza jogos de luz e sombra para dar vida ao deserto como um personagem por si só. Timothée Chalamet entrega uma atuação mais madura e introspectiva como Paul Atreides, equilibrando liderança e tormento interno. A sequência de batalha entre os Fremen e os Harkonnen, coreografada com um realismo brutal, mostra a maestria de Villeneuve na direção de cenas de ação.
Emilia Pérez – O filme dirigido por Jacques Audiard mistura gêneros ao contar a história de um poderoso traficante que decide transicionar para uma nova identidade feminina. A obra é um deleite visual, com cenários extravagantes e uma paleta de cores vibrante que contrasta com a violência do mundo retratado. Zoe Saldaña entrega sua melhor atuação até hoje, especialmente em uma cena emocionante onde sua personagem canta uma canção de despedida: “Eu sou quem sempre fui, apenas esperei para me encontrar.” A montagem intercala flashbacks e sequências musicais que tornam a narrativa fluida e envolvente. É criticado por revelar um México (onde passa a obra) estereotipado, a partir de uma visão estrangeira. O diretor Jacques Audiard é francês.
O Brutalista – Neste drama dirigido por Brady Corbet, Adrien Brody interpreta um arquiteto húngaro tentando reconstruir sua vida após a Segunda Guerra Mundial. O filme utiliza uma cinematografia monocromática para reforçar o peso emocional da história. A direção de arte impressiona com a recriação minuciosa do brutalismo arquitetônico, onde cada cena parece uma pintura de concreto e ferro. Brody entrega uma performance contida e expressiva, com momentos de silêncio tão impactantes quanto seus monólogos.
Conclave – Baseado no romance de Robert Harris, este thriller político acompanha o processo de escolha de um novo Papa. A direção de Edward Berger utiliza corredores escuros e uma iluminação minimalista para criar uma atmosfera de suspense e claustrofobia. A atuação de Ralph Fiennes como um cardeal dividido entre sua fé e ambição é um dos destaques do filme. O roteiro afiado faz diálogos banais parecerem carregados de segundas intenções, especialmente em cenas como quando um cardeal pergunta: “Você confia em Deus ou no homem que o representa?”
Ainda Estou Aqui – O longa dirigido por Walter Salles conta a emocionante e dolorosa história de Eunice Paiva, advogada e ativista que enfrentou a brutalidade da ditadura militar brasileira nos anos 1970. Após o desaparecimento de seu marido, o deputado Rubens Paiva, Eunice se tornou uma voz incansável na luta pelos direitos humanos, enfrentando perseguições e torturas enquanto buscava justiça. A atuação de Fernanda Torres no papel de Eunice é profundamente comovente, especialmente em cenas em que sua personagem encara o silêncio opressor das instituições que tentam apagar sua voz. A fotografia de Lula Carvalho captura a frieza dos porões da repressão e o calor da esperança, enquanto a trilha sonora pontua a tensão e a resiliência dessa mulher extraordinária. O filme não apenas resgata uma história essencial da memória brasileira, mas também dialoga com questões contemporâneas sobre democracia e direitos humanos.