Cinema

‘Photograph’ exibe o romantismo indiano

Por Laboratório Pop


Rodrigo Fonseca
Só se fala de John Carpenter, um mestre do terror, famoso por sucessos como “Halloween” (1978), hoje, nas redes sociais, desde que correu a notícia de uma homenagem para o cineasta, com direito ao troféu Carroça de Ouro, na Quinzena dos Realizadores do 72º Festival de Cannes, agendado de 14 a 25 de maio. Embora a Croisette seja o alvo atual das atenções cinéfilas, muitas produções que se destacaram em solo alemão, no último Festival de Berlim, em fevereiro, começam a buscar espaço no planejamento estratégico dos exibidores, sobretudo aquelas que surpreenderam pelo diálogo caloroso com plateias estrangeiras, com chamarizes afetivos, como o indiano “Photograph”. Um dos últimos filmes a estrear no evento, em sessão hors-concours, cercado de elogios, o novo longa-metragem de Ritesh Batra (conhecido aqui por “Lunchbox”, que grudou no gosto dos frequentadores do Grupo Estação e de outras salas de arte do Rio) levou Berlim a uma Índia pé no chão, do dia a dia, sem a suspensão do realismo dos musicais de Bollywood, muito coloridos e cheios de fantasia. Sua trama é uma espécie de “Cinderela”, só que troca o sapatinho de cristal por um retrato: um lambe-lambe pobretão revira Mumbai para encontrar a estudante que fotografou numa tarde, encantado pela beleza dela.

“Cada filme se comporta de um jeito particular, sem repetir, necessariamente, o que os nossos trabalhos anteriores fizeram. A boa recepção a ‘Lunchbox’ se deu em função de um estilo, que, neste novo longa, vai por uma aposta numa narrativa realista, com locações ao ar livre. Existe muita diversidade nas plateias da Índia: há espaço para todo tipo de história”, disse Batra na Berlinale.

Com sabor de conto de fadas (ao curry) e temperos de comédia romântica com Julia Roberts, “Photograph” foi um sopro de doçura em uma seleção como a da Berlinale, sempre pautada pela política e por filmes combativos. Marcada pelo multiculturalismo, o filme acompanha o dilema amoroso do fotógrafo Rafi (Nawazuddin Siddiqui), que ganha o pão do dia a dia tirando retratos em pontos turísticos. Um dia, ele tira um retrato de uma moça de alta classe média, Miloni (Sanya Malhotra, estrela do fenômeno de público indiano “Dangal”). Interditada por dilemas financeiras, a paixão entre eles, discretíssima, vai sendo desenhada na tela como um ritual etnográfico sobre tradições da Índia. Miloni quer evitar um noivado forçado. Rafi precisa de uma noiva, para dar satisfação à família. O encontro é perfeito… sobretudo por eles se gostarem de verdade. Mas contratempos financeiros vai dar um gostinho de folhetim ao longa, de inegável apuro dramatúrgico.

“Os filmes ganham mais força quando dialogam com outras obras”, diz Batra. “Tem algo do cinema de Alexander Payne e de Asghar Farhadi aqui, mas com um esforço de olhar a Índia sob o meu ponto de vista, minha subjetividade”.

Entre os títulos laureados na seleção competitiva da Berlinale 2019, o filme que mais atiça o apetite do circuito exibidor é “Grâce à Dieu”, que deu o Prêmio Especial do Júri ao parisiense François Ozon. Na França, onde entra em cartaz neste fim de semana, este drama baseado em um caso judicial real de processo a um padre pedófilo (a ser julgado em março) tem fôlego para se tornar a maior bilheteria local do primeiro semestre, desafiando a hegemonia de Hollywood.