RODRIGO FONSECA
Ganhador do Urso de Prata de melhor roteiro no Festival de Berlim, em fevereiro, o thriller de máfia “Piranhas – La Paranza Dei Bambini” vai estrear nos EUA nesta sexta, de olho em potenciais indicações ao Oscar para a Itália, querendo estampar nas telas do Tio Sam a força de sua pátria no cinema. Vai ser o cinema italiano quem vai abrir o Festival de Locarno, na quarta-feira que vem (dia 7), na Suíça, com a exibição do drama “Magari”, de Ginevra Elkann. Além disso, há três italianos na disputa pelo Leão de Ouro de Veneza: “Martin Eden”, de Pietro Marcello; “La mafia non è più quella di uma volta”, de Franco Maresco; e “Il sindaco del Rione Sanità”, de Mario Martone.
Quando “Lazzaro Felice” virou febre na Netflix, em 2018, sua diretora, Alice Rohrwacher, mandou a real do que se passa em solo italiano, entre os diretores:
“A Itália é um país mitológico no cinema. Isso nos gerou um patrimônio rico, mas também um impasse: cada novo filme que fazemos parece ter pela frente o desafio de fazer jus à nossa identidade histórica nas telas”, disse a diretora, laureada em Cannes, com o prêmio de melhor roteiro.

Não lhe falta razão, mas há conterrâneos dela que usam essa tradição como combustível, sem medo de reverências, como se vê nas múltiplas referências a “O Bandido da Sicília” (1962), de Francesco Rosi, em “Piranhas”, uma das sensações da Berlinale 2019, exibido na briga pelo Urso de Ouro. Seu título original: “La Paranza dei Bambini”. A produção foi ovacionada na capital da Alemanha, tendo estreado em seu país de berço em fevereiro.

Tem uma novíssima, e inspirada, geração de diretores italianos chegando às telas a fim de restaurar o prestígio que a terra de Fellini um dia teve, entre o neorrealismo e a ascensão de Silvio Berlusconi, nos anos 1980: Laura Lucetti (“Fiore gemello”), Edoardo De Angelis (“Il vizio della speranza”) e Diego Marcon (com a animação “Monelle”) andaram estourando mundo afora em 2018. Mas depois de ontem, quando a Berlinale conferiu “Piranhas”, o nome da Itália que salta para o estrelato é o de Giovannesi, diretor romano de 40 anos. Fala-se de Urso de Prata, na forma de um prêmio especial de júri, ou até de um troféu coletivo para seus (não) atores mirins, todas as vezes em que este espetáculo etnográfico e sociológico é comentado. Trata-se de um rasante na dinâmica da máfia napolitana, escrita por Roberto Saviano, escritor jurado de morte pela Camorra responsável pelo marco histórico “Gomorra” (2008). Ele aqui acompanha a jornada de perda de inocência de um grupo de jovens seduzidos pela criminalidade, tendo como líder Nicola (Francesco Di Napoli). Espera-se apenas que Giovannesi não seja esquecido pelo júri presidido por Juliette Binoche, como aconteceu ano passado com “Minha filha”, de Laura Bispuri.

p.s.: Falando em Itália, vai ter 8 1/2 Festa do Cinema Italiano 2019 em várias cidades do Brasil de 8 a 14 de agosto e de 15 a 21 de agosto, com direito a projeção de “Silvio e os outros” (“Loro”), de Paolo Sorrentino. Na primeira semana, o evento será realizado nas cidades de Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Niterói, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo e Recife. De 15 a 21 de agosto, chega a Belém, Florianópolis, Goiânia, Salvador, Vitória, além de Fortaleza, Londrina e Natal.