Cinema

‘Podres de ricos’ não para de surpreender

Por Laboratório Pop

Rodrigo Fonseca
Sensação comercial de 2018, capaz de rasgar sorrisos quilométricos no rosto dos exibidores, “Podres de ricos” soma hoje cerca de 22 indicações a prêmios cinematográficos, estando, inclusive, entre os concorrentes ao Globo de Ouro. Foi um dos filmes mais rentáveis de 2018, com um faturamento que beira US$ 240 milhões. Originalmente batizado como “Crazy rich asians”, o longa-metragem é uma adaptação do best-seller homônimo de Kevin Kwan, que consumiu US$ 30 milhões em suas filmagens e seu lançamento. Nada mais é do que uma versão contemporânea de “Cinderela” com atores asiáticos, sem sapatinho de cristal, puxado na pimenta em sua mirada para as relações sociais e amorosas. Seu humor é bem dosado, equilibrado com o tom melodramático de sua abordagem para impasses do querer. Seu diretor, o californiano de ascendência chinesa Jon Murray Chu (de “GI Joe: Retaliação”), é um especialista em videoclipes (sobretudo os de Justin Bieber), competente em misturar gêneros. Seu erro é plástico: na fotografia e na direção de arte, seu filme aposta em demasia na saturação de cores, no excesso de elementos cenográficos e na utilização de luzes, de modo a diluir o realismo e caminhar para o conto de fadas. Se não fosse tão desmedida com seu apuro visual, a proposta até casaria com a trama: uma jovem professora de Nova York, Rachel Chu (Constante Wu, uma atriz de carisma invejável) viaja para Singapura para conhecer a família de seu milionário noivo, Nick (Henry Golding), e é hostilizada pela sogra (a genial estrela malaia Michelle Yeoh, de “O tigre e o dragão”). Temos aqui um enredo batido, tratado sem novas perspectivas estéticas, repaginado apenas sob o viés antropológico. E a abundância de anilina no glacê tira o sabor deste bolo, cujo recheio mais saboroso é o binômio de maldade e ironia que Michelle descortina a cada cena.