John Malkovich assina autógragos ao fim da coletiva de “Sêneca”, em Berlim

 

RODRIGO FONSECA

Cerca de 20 anoa depois de sua única incursão na direção de longas (o thriller “Guerrilha Sem Face”), John Malkovich fez a Berlinale sorrir ao dizer que sua próxima experiência nas telas, pra além de atuar (e muito bem), seria como coreógrafo. A brincadeira foi uma reação dele ao trabalho de corpo que levou para o monumental “Sêneca”, de Robert Schwentke, que racha opiniões na capital alemã. Parece um filme de Júlio Bressane (com tudo de bom e de mais experimental por trás da obra do cineasta carioca) misturado com peças de Peter Brook.

“Venho do teatro, não tenho medo da palavra”, disse o eterno Visconde de Valmont de “Ligações Perigosas” (1988), num diálogo diteto com os textos teatrais do filósofo Sêneca, que morreu em 65 d.C., em Roma, por ordem do imperador Nero.

Mesclando História com elementos da arte contemporânea (além de techno music e cenas documentais), “Sêneca” abre mão do realismo e faz alegoria(s), focado na crise política do mundo pós-covid-19, sem se posicionar à esquerda ou à direita, atacando as mais variadas formas de hipocrisia retórica.

“Sêneca teve uma vida performática, o que dá ao filme uma dimensão de teatro forte”, diz Malkovich, que citou sua experiência com o diretor português Manoel de Oliveira, com que rodou cuts como “Um Filme Falado” (2003), em resposta ao Laboratório Pop. “Manoel era um tipo raro, faacinante, que me influenciou muito e sabia usar a palavra de modo singular”.

Vai ter Berlinale até o dia 26, sendo que o ganhador do Urso de Ouro será decidido e anunciado neste sábado, por um júri presidido pela atriz Kristen Stewart. A exibição de “Sêneca” foi hors-concours. Dos 19 concorrentes, o mais aplaudido até agora foi “La Grand Chariot”, de Philippe Garrel.