RODRIGO FONSECA
Tá aquecida a programação de cinema da TV aberta neste fim de semana, com direito a “Rocky 5” (1990) na madrugada da Globo, às 3h25, a “Batman Begins” (2005) no “Domingo Maior”, às 23h55 deste 8/12, também no PlimPlim. Há uma pedida para o almoço do domingão, também na emissora carioca, às 12h30, que requer atenção: o tenso “Robin Hood – A Origem” (2018). Sua exibição mobiliza o horário da “Temperatura Máxima”.
Como é bom revisitar o herói arqueiro celebrizado no cinema na Era de Ouro de Hollywood na figura do ator Errol Leslie Thomson Flynn (1909-1959). Ele soltou flechas que cravaram no coração da cinefilia, em 1938, transformando o vigilante de Sherwood, Robin de Loxley (egresso do folclore anglo-saxônico do século 13), em propriedade da indústria do audiovisual. Cada tempo dá ao anti-herói que assalta o “mais valor” dos ricos para saciar a fome dos pobres um banho de loja diferente. O visual flamboyant, de peninha na cabeça, de Flynn não cabe nesta era de mil patrulhas ideológicas. Aliás, esse visual já não cabia nos anos 1990, no auge da era ecológica do politicamente correto, quando Kevin Costner fez dele um paladino à moda MTV, em “O Príncipe dos Ladrões” (1991), um filme memorável de Kevin Reynolds (aliás, um dos melhores daquela década). Ridley Scott tentou repaginá-lo, em 2010, fazendo dele um Spartacus, mas carregou demais no chuchu. Agora, Otto Bathurst, diretor da ótima série “Peaky Blinders”, torrou US$ 100 milhões numa releitura à la “Game of Thrones” do personagem, adaptada com as transformações sociais do Brexit ao retratar as moléstias financeiras do Reino Unido. Com ótimas cenas de ação, Bathurst abre o longa-metragem com uma memorável sequência tipo “jogo de tiro” (em primeira pessoa, à moda “Doom”) nas Cruzadas e, dela em diante, faz uma aventura com viradas contínuas e com evolução moral de seu protagonista, apoiado no carisma ilimitado de Taron Egerton. Só Ben Mendelsohn brilha mais do que ele, numa afetadíssima recriação do xerife de Nottingham, amplificada na dublagem do gênio da voz Luiz Carlos Persy.
Tem clichê demais na montagem, mas o ritmo feérico da edição abafa o lugar comum. Um dos achados dessa reciclagem do mítico guerreiro (que faturou US$ 86 milhões) é a atuação de Jamie Foxx como Yahya, o soldado mouro que se torna mentor e amigo de Robin. No Brasil, Jorge Lucas dubla Foxx, com perfeição.