Rodrigo Fonseca
Com o Festival do Rio chegando à sua reta final, documentários de crispas políticas capazes de incendiar debates inclusivos ganham prioridade nas escolhas do fim da festa cinéfila carioca, com destaque prioritário para “Somos Guardiões”, de Edivan Guajajara, Chelsea Greene e Rob Grobman. Tem sessão nesta sexta, dia 13, às 13h30, no Kinoplex São Luiz 4, com repeteco no sábado, às 16h, no Estação NET Gávea 1. Sua caudalosa narrativa promove m estudo sobre o guardião da floresta indígena Marçal Guajajara e a ativista Puyr Tembé enquanto eles lutam para proteger seus territórios do desmatamento, bem como um madeireiro ilegal que não tem escolha a não ser derrubar a floresta e um grande proprietário de terras à mercê de invasores e da indústria extrativa. O filme une política, história, economia, ciência e consciência, fornecendo uma visão aprofundada desta situação complexa e crítica — cujas origens e impacto se espalham muito além dos limites da própria Amazônia.
“Não houve um roteiro específico para fazer essas gravações. Fui convidado para estar nessa equipe de gravação que veio de Oregon nos Estados Unidos, para o território indígena do Rio Guamá, em Belém”, explica Edivan, em áudio ao LabPop. “Foram gravações que duraram praticamente três anos. Primeiramente, eu fui convidado para ser uma pessoa que estaria na equipe para facilitar o diálogo entre a equipe e os indígenas nos territórios. Com decorrer do processo de gravação, eu vi que eu faria muito mais do que um simples assistente de logística. Foi quando eu tive a oportunidade de ser um câmera. Fui convidado para ser câmera e fazer parte da equipe. Em 2019, começamos as gravações, acompanhando a liderança indígena Puyitembe. Filmamos o seu dia a dia no seu território e também o seu dia a dia fora do seu território”.
Na luta dos povos originários para a demarcação de sua autoficção e de sua representação etnográfica, “Somos Guardiões” assume um papel geopolítico estratégico, sem abrir mão de seu viés poético. “O fato mais importante que me levou a ser diretor era a oportunidade única que eu tive de contar a nossa própria história, expressando como ela realmente acontece em nosso território. Eu queria contar a nossa verdade”, diz Edivan. “Eu queria contar as coisas que acontecem no nosso território, o que os nossos guardiões, as nossas lideranças passam no seu dia a dia para fazer a proteção territorial”.
Até o momento, na competição oficial da Première Brasil 2023, há uma torcida organizada em prol de “Pedágio”, da cineasta Carolina Markowicz, que arrebatou a cidade. Maeve Jinkins tem um desempenho catártico no papel da mãe solteira, cobradora de uma cancela de estrada, que resolver submeter seu filho adolescente a um processo de cura gay. O rapaz é vivido por Kauan Alvarenga, astro do curta que rendeu à realizadora a Queer Palm de Cannes, em 2018: “O Órfão”. Entre os curtas-metragens em concurso, causa assombro a concisão narrativa de “Deixa”, de Mariana Jaspe. A cineasta faz uma triagem de afetos fora das CNTPs da segurança ao falar da angústia de uma mulher (Zezé Motta) que está prestes a receber a visita do ex-marido, que está saindo da prisão.
No domingo serão conhecidos os vencedores.