Cena de “Suzume”, uma produção que consumiu um ano e três meses de trabalho apenas em seus storyboards

RODRIGO FONSECA

Única das 19 produções concorrentes ao Urso de Ouro da 73. Berlinale com perfil de blockbuster, o desenho animado japonês “Suzume” foi lançado em sua terra natal e contabilizou cerca de US$ 100 milhões por lá, fazendo jus ao legado de seu diretor, Makoto Shinkai. Tudo dele vira sucesso popular. Em 2019, ele rodou o mundo exindo “O Tempo Com Você”, contabilizando uma receita estimada em US$ 193 milhões. Três anos antes, deu ao cinemão o fenômeno “Your Name” (2016), cuja arrecadação chegou a US$ 382 milhões. Sua renda animou J.J. Abrams a comprar os direitos do longa pra Hollywood, e refilmar sua trama com atores.

“O preço do ingresso no Japão é muito caro, o que me leva a sempre tentar oferecer a minhas plateias uma narrativa de entretenimento. Tem algo de melodramático em ‘Suzume’, mas eu tento conter esse tom ao máximo, para não perder a linha de diversão que o longa tem”, disse Makoto ao LABORATORIO POP na Berlinale.

Duas décadas se passaram desde que Hayao Miyazaki ganhou o Urso de Ouro de Berlim com “A Viagem de Chihiro”. Desde então, esse formato da animação nunca mais teve protagonismo na competição germânica. Este ano, contudo, há um filme animado chinês (“Art College 1994”) e há “Suzume”, cujo roteiro embatucou cabeças e machucou corações. É um anime genial, cheio de referências a mitologias do Japão e da Grécia. Somos apresentados à saga de uma adolescente órfã, Suzume (com a voz de Nanoka Hara), que se vê obrigada a salvar o planeta de cataclismas. Uma série de catástrofes surgem de misteriosas portas abertas no céu, causando tremores de terra e perigos afins. O risco que esses eventos místicos trazem evocam em Suzume a doída memória de um tsunami associado à morte de sua mãe.

“Sou muito respeitoso em relação às lendas japonesas. Quis me reportar a elas numa trama de entretenimento. Numa outra medida, quis trazer a lembranca de um tsunami real do Japão, ocorrido há cerca de 12 anos”, diz Makoto, que trabalhou por um ano e três meses nos storyboards do longa.

Vai ter Berlinale até domingo, sendo que o júri anuncia seus ganhadores neste sábado. Makoto tem tudo pra conquistar a láurea de Melhor Contribuição Artística.