Hot

The Hollies, Radiohead e Lana Del Rey: bizarra coincidência

Hugh Grant lembra “cópia ocasional” em ótima cena do filme Herege

por Robert Halfoun

Em cena antológica do filme Heretic (Herege, 2024), o personagem Mr. Reed, vivido por Hugh Grant, no maior papel da sua carreira, questiona a jovem Barnes (Sophie Thatcher), se ela sabe da semelhança entre as canções “The Air That I Breathe” e “Creep”, do Radiohead. Ele chega cantarolar a música que tornou famosos Tom Yorke e a sua turma.

Por aqui, bastou vermos a sequência para lembrar da história toda.

Era 1974, Albert Hammond (sim, o pai de Albert Hammond Jr., do Strokes) e Mike Hazlewood escreveram e lançaram a melancólica balada soft rock, top 10 nas paradas do mundo todo – e que, definitivamente, colocou a The Hollies no mapa.

Dezoito anos mais tarde, Tom Yorke escreve e lança “Creep”, cujas progressão de acordes e frase melódica são idênticas as de “The air That I Breathe”.

Então veio a questão: Yorke seria ingênuo (ou cara-de-pau) o bastante para fazer uma cópia descarada de parte de uma canção que foi parar nas paradas de sucesso? Ele, claro, diz que não. E foi defendido pela teoria de que não é incomum que músicos sejam influenciados subconscientemente por músicas que admiram, o que pode levar a sobreposições de ideias musicais.

Fato é que Albert Hammond e Mike Hazlewood foram superelegantes (ou perspicazes) e não fizeram barulho na mídia sobre o caso. Lembraram da “coincidência” para os agentes do Radiohead. De forma justa e para não causar alvoroço, eles trataram de incluir os nomes dos Hollies como co-compositores de “Creep” – na época, já estourada mundialmente.

Até hoje Hammond e Hazlewood recebem roayalties gordos a cada execução da canção, infinitamente mais tocada do que “The Air that I Breathe”.

Questão resolvida até que em 2017 surge “Get Free”, de Lana Del Rey. Nela, o tom melancólico dá lugar a algo sonhador e inspirador sobre libertação e autodescoberta. As progressões de acordes e frase melódica, no entanto, são idênticas as de “Creep” que, por sua vez, são idênticas as de “ The Air That I Breathe”.

O Radiohead imediatamente reclamou e pediu a autoria da canção. Lana reconheceu as semelhanças, mas afirmou que não havia copiado “Creep” deliberadamente. Então propôs a co-autoria da canção, dedicando 40% do royalties para Yorke.

Os agentes do Radiohead negaram a proposta mas também não foram para os tribunais com a questão. E, no final, o caso acabou em pizza. Até porque “Get Free”, a última canção do álbum Lust For Life, não pegou.

É como diz Hugh Grant, ao concluir a história, na cena de Heretic: “Repetições… Prorrogação… Diluição da mensagem… Obscurecendo o original”.