Rodrigo Fonseca
Mesmo com sua programação já fechada e com sua competição pelo Urso de Ouro correndo a mil, a 73ª Berlinale esgarçou uma janela inusitada em sua grade, na programação vespertina desta segunda-feira e encaixou na sala 7 do multiplex CinemaXX uma homenagem póstuma ao cineasta espanhol Carlos Saura, morto no último dia 10, aos 91 anos. Em tributo a seu legado, o Festival de Berlim vai projetar seu último longa-metragem, o documentário “Las Paredes Hablan”, lançado em setembro, em San Sebastián e exibido no Brasil, em outubro, na Mostra de São Paulo. Dono de uma obra que encantou o planeta com “Cría Cuervos” (Grande Prêmio do Júri em Cannes, em 1976) e “Depressa, Depressa” (Urso dourado na Berlinale de 1981), o artesão autoral serenou (em decorrência de complicações respiratórias) deixando de presente para seus fãs um .doc de 75 minutos sobre o mundo da arte. O filme retrata a relação entre a criação pictórica (pintura, grafite, desenho) e o espaço do muro (ou da pedra, no caso das cavernas) como tela. Por isso, flana das primeiras expressões gráficas na pré-História até as vanguardas, dando um pulo até as inquietas manifestações poéticas das periferias contemporâneas. Ele dirige e “atua”, participando da narrativa como um investigador.
Incluído na 70ª edição de San Sebastián fora da disputa pela Concha de Ouro, “Las Paredes Hablan” foi filmado em 14 locais, como as grutas de Puente Viesgo e Altamira, na Cantábria, com uma passada pelo sítio arqueológico Atapuerca, em Burgos. Saura não se esqueceu das ruas coloridas de Barcelona, nem dos bairros grafitados de Madri.
Nesta segunda, a Berlinale vai conferir um thriller mucho loco com Willem Dafoe chamado “Inside”, de Vasilis Katsoupis. Em sua trama, o larápio Nemo (Dafoe), especializado em roubar de obras de arte, fica trancado em um apartamento, sem chance de sair, depois que um crime dá errado, e vai enlouquecendo pouco a pouco, no que promete ser uma narrativa febril.
Até o momento, o filme em competição com mais chances de levar o Urso de Ouro pra casa é “Disco Boy”, de Giacomo Abbruzzese, sobre um o choque de um recruta da Legião Estrangeira com militante da luta contra as exploradoras de petróleo. Franz Rogowski (“Undine”) é um dos destaques do elenco. O festival segue até o dia 26.