Rodrigo Fonseca
Concebido para se tornar um dos maiores fenômenos de bilheteria do ano, sobretudo por sua arrancada comercial com 80 mil ingressos vendidos em seu fim de semana de estreia na França, “The Extraordinary Journey of The Fakir” desapontou os exibidores, sem cumprir as expectativas de lotar salas de projeção, mas começa, agora, quase seis meses após seu lançamento, a galgar uma carreira de prestígio do exterior. Não por acaso, o longa-metragem dirigido pelo canadense Ken Scott é um dos títulos mais disputados entre os 75 filmes que integram o Rendez-vous Avec Le Cinéma Français. É a 21ª edição do evento, concebido para promover mundialmente os potenciais êxitos comerciais e autorais do audiovisual francês, coordenado pela Unifrance. E há carisma de sobra nessa comédia fantástica de Scott para agradar cinéfilos de outras terras.
Cannes veio abaixo de rir e de suspirar nas projeções para o mercado dessa aventura romântica de tintas cômicas e mágicas. Com o apoio do talentoso ator Dhanush, uma espécie de Bill Murray da Índia, Scott esbanja lirismo na saga de Ajatashatru Oghash Rathod, um faquir que viaja o mundo por duas razões. A primeira: correr atrás de um novo colchão de pregos; a segunda: reencontrar a francesa por quem se apaixonou.
Nesta entrevista, o diretor explica suas escolhas estéticas… e fantásticas.
LAB POP: Qual é a dimensão fabular que você buscou alcançar com The Extraordinary Journey of The Fakir?
KEN SCOTT: Existe já no livro de Romain Puértolas em que nos baseados uma natureza de fábula, encantadora, no modo inusitado como o faquir se desloca por lugares inusitados. Porém, o que havia de mais especial no tom fantástico da história é o fato de ela exigir uma fidelidade a cada cultura que nós visitamos. Não é um filme de turista. É um mergulho profundo em territórios de muita riqueza cultural.
LAB POP: O que mais e melhor se impões nessa sua jornada extraordinária é a potência visual de sua fotografia. Como ela foi construída?
KEN SCOTT: Como nós viajamos por muitos lugares, eu busquei dar ao visual do filme o máximo de proximidade com o colorido cultural de cada país visitado. A luz natural da Índia, por exemplo, pesa na construção visual dos primeiros 21 minutos.
LAB POP: Como foi a construção da figura de Ajatashatru Oghash Rathod, seu faquir, de modo a evitar caricaturas?
KEN SCOTT: Ter em cena um ator que fez 35 filmes antes de trabalhar com você, como é o caso de Dhanush, ajuda muito. Ele é muito experiente e sabe como extrair humor das situações mais corriqueiras.
LAB POP: E é um humor universal?
KEN SCOTT: Se você fala sobre a condição humana, você estará sendo, de modo imediato, universal. Há alguns anos, eu dirigi no Canadá um filme chamado A Grande Sedução. Parecia um roteiro regional, com foco em pescadores. Um dia, soube que distribuidores da Coreia do Sul estavam doidos pelo filme. Estranhei e perguntei a eles: “O que essa história significa pra vocês”. A resposta foi: “Tudo. É um filme sobre nós, tem tudo a ver com nosso modo de encarar a vida”. Depois disso, parei de mirar em valores específicos e passei a crer no poder de comunicação global da linguagem do cinema.