RODRIGO FONSECA
O título de maior potência estética das mostras paralelas à disputa pela Palma é “On Becoming a Guinea Fowl”, de Rungano Nyoni: Mais badalado dos representantes da África no Festival, esta fábula sombria da Zâmbia marca a volta da diretora de “Eu Não Sou Uma Bruxa” (2017). Rungano nos leva aos bastidores de um enterro, no qual a despedida de um tio provoca uma surreal transformação numa família.
Ao lado dele aparece o .doc antirracista “Ernest Cole, Lost And Found”, do ativista Raoul Peck (“Eu Não Sou Seu Negro”). Sua fascinante narrativa cartografa os feitos de um fotógrafo que registrou a bestialidade do Apartheid na África do Sul e fez carreira em NY e na Suécia.
Na competição pela Palma, o biopic “The Apprentice”, sobre o jovem Donald Trump, pode (e merece) dar a Sebastian Stan o prêmio de Melhor Ator. Mas há uma pressão do próprio Trump contra o filme.
Para a América Latina, há uma série de holofotes apontados para a Argentina por meio dos elogios a “Transmitzvah”, de Daniel Burman. O realizador de “O Abraço Partido” (2004) chega à Croisette com seu melhor filme em anos. Nele, uma cantora de músicas em ídiche perde a voz e precisa da ajuda de seu irmão, com quem não se relaciona há anos, para recobrar sua saúde e cicatrizar feridas familiares. O Brasil brilhou na Quinzena de Cineastas, com “A Queda do Céu”, de Gabriela Carneiro da Cunha e Eryk Rocha, e emplaca nesta terça, na Semana da Crítica, o esperado “Baby”, de Marcelo Caetano.
Cannes termina neste sábado, quando o júri presidido por Greta Gerwig atribui as láureas oficiais. Antes, George Lucas, o criador de “Star Wars”, receberá a Palma de Ouro Honorária.