Responsável por repaginar a carreira de Demi Moore, com direito a um Globo de Ouro, “A Substância” (“The Substance”) cresce dia a dia no bolão de apostas para o Oscar 2025, e se firma no gosto da cinefilia brasileira via straming, na grade da MAX. Sua narrativa se alinha com o chamado body horror, filão (bem) lapidado pelo canadense David Cronenberg (“A Mosca”) e renovado pelo polêmico “Titane” (Palma de Ouro de 2021), essa vertente (cult) do cinema fantástico explora entranhas, artérias, tecidos corporais, músculos, fluídos. Sua estreia mundial aconteceu no Festival de Cannes, na disputa pela Palma de Ouro, de onde saiu com a láurea de Melhor Roteiro. Seu enredo narra a bizarra transformação por que a atriz decadente Elizabeth Sparkle (Demi) passa ao aceitar se submeter a um experimento. Ao ser desligada da emissora onde brilhava num programa de aeróbica, a mando de um executivo de hábitos grotescos (Dennis Quaid, hilário), ela recebe um convite para provar de uma fórmula sintética capaz de rejuvenescê-la. Sem nada a perder, ela prova do tal líquido (injetável) e passa por uma dolorosa mutação que a torna uma moça bem jovem. Essa figura, vivida pela ótima Margaret Qualley (de “Stars At Noon” e da série “Maid”), ganha o nome de Sue. A exuberância em seu olhar e sua destreza na ginástica fazem dela uma coqueluche midiática, tomando o posto que era de Sparkle. As duas deveriam ser uma só, mas acabam por desenvolver personalidades e vontades distintas, numa fratura de psique. É um caso de Médica e Monstra, Dra. Jekyll e Mrs. Hyde.
Essa rachadura é parte de uma contraindicação do tal soro: o certo era que elas trocassem de lugar, sempre, a cada sete dias, injetando-se novas doses. Se essa exigência de data não for cumprida, efeitos nefastos hão de ocorrer. O mais simples dele é o aumento da agonia no processo de morfismo delas. Há consequências mais graves como a escassez gradual da lucidez e a aparição de sequelas físicas, com marcas, pústulas e monstruosidades diversas.
Seu trabalho taquicárdico de montagem (construído numa edição feita a seis mãos por Caroline, Jérôme Eltabet e Valentin Feron) jamais deixar a narrativa perder o ritmo, nem abrir mão de sua natureza reflexiva. No Brasil, Mônica Rossi dubla Demi.