Hot, London Burning

Levitation traz os Anos 90 de volta aos EUA

Realizado em Austin, o festival teve medalhões do rock alternativo

Por Luciano Vianna

Se você curte o bom e velho college rock, psicodelismo, uma pitada de garage rock e heavy metal e uma vibe alternativa que foge do padrãozão dos grandes festivais, o Levitation é o seu lugar no mundo. O festival rola em Austin, Texas — uma cidade que respira música e cultura underground — e a edição de 2025 veio pra reafirmar: o Levitation é um dos eventos mais autênticos e apaixonantes do planeta.

O Levitation sempre teve um gosto apurado pra montar line-ups que misturam lendas com novidades. Em 2025, não foi diferente. O festival trouxe uma mistura deliciosa de indie, metal, dream pop, experimental e eletrônica obscura, focado em grandes nomes que fizeram a cabeça de quem curtiu o college rock americano dos Anos 90. Entre os principais nomes estavam:

– Pavement – os reis do indie 90’s, que vieram como um dos grandes headliners e mostraram que continuam com a mesma ironia e energia.

– TV on the Radio – um show intenso, cheio de groove e emoção, revisitando clássicos e mostrando novas faixas.

– Mastodon – representando o lado mais pesado do festival, com um setlist destruidor e uma produção visual impressionante.

Além de nomes como Built to Spill, Unknown Mortal Orchestra, Acid Bath, The Brian Jonestown Massacre, entre outros.

O Laboratorio Pop viajou até Austin para contar como foi o festival. Mas antes, um pouco de história. O Levitation nasceu em 2008, com o nome de Austin Psych Fest. A ideia veio de alguns músicos da cena local, principalmente da banda The Black Angels, que queriam criar um festival dedicado ao rock psicodélico — aquele som que nasceu nos anos 60 com Jimi Hendrix, Jefferson Airplane e 13th Floor Elevators, e que nos anos 2000 vivia um revival forte no Texas. O nome “Levitation” foi adotado em 2015, como uma homenagem direta ao 13th Floor Elevators e à música “(I’ve Got) Levitation”. Desde então, o festival cresceu, ganhou respeito e se tornou uma das maiores celebrações da psicodelia moderna.

Depois de anos acontecendo no Red River Cultural District, o Levitation 2025 fez uma mudança importante: o festival centralizou suas atividades no **Palmer Events Center**, um espaço mais amplo, coberto, com dois palcos principais, estrutura melhor e conforto para o público. Além disso, o Levitation manteve sua tradição dos “Night Shows” — apresentações em clubes menores espalhados pelo centro da cidade, como o Mohawk, Stubb’s e o Parish. Esses shows paralelos são o coração do festival, porque mantêm a vibe intimista e dão espaço pra bandas novas brilharem.

A sexta foi o dia de abrir os trabalhos, e o público já chegou com aquela ansiedade boa. O palco principal do Palmer começou com bandas locais aquecendo o clima, e quando Yīn Yīn subiu, a pista virou uma festa psicodélica. O som deles — uma mistura de funk, disco e música asiática — é irresistível. Um dos destaques do ano passado, o Stoner metal do Bloody Incantation levou ao palco seus riffs psicodélicos e muito barulho. Outro destaque foi a volta dos veteranos do Acid Bath, uma espécie de ponte entre o Soundgarden e o Kyuss, que levou o maior público do dia, com fãs que cantavam as músicas dos seus dois únicos álbuns lançados nos anos 80/90 a plenos pulmões. Atração do Rock in Rio na década passada, o Mastodon fechou o dia com seu metal técnico e pesado e o contraste entre os riffs monstruosos e os visuais psicodélicos.

O sábado foi o dia dedicado ao College rock dos Anos 80/90, com lendas como os shoegazers do Swervedriver e Blonde Readhead ao lado do som psicodélico do Brian Jonestown Massacre (que toca no fim de novembro em São Paulo) e dos populares Unknow Mortal Orchestra e do headliner da noite, os nova-iorquinos do TV on The Rádio, que fez o show mais enérgico da noite, misturando soul, eletrônico e rock. O vocalista Tunde Adebimpe dominou o palco, e o público vibrou como se estivesse em uma cerimônia espiritual e foi recompensado com o público mais vibrante de todo o festival.

O domingo trouxe a maior atração do evento, o show dos americanos do Pavement. Mas antes teve o eletrônico do Model/Atriz, a novidade hardcore hypadissima do Upchuk, Os donos da casa Black Angels com seu psicodelismo clássico e os veteranos do Built to Spill, que fizeram um show impecável, daqueles que lembram por que o indie americano dos anos 90 ainda é tão relevante. O público mais velho se emocionou, e os mais novos ficaram hipnotizados com as melodias. Um breve intervalo e veio o momento mais esperado de todo o festival: Pavement. A banda subiu no palco com um humor típico de quem sabe que é lendária, mas sem soar com arrogância. Tocaram clássicos como “Cut Your Hair”, “Gold Soundz” e “Range Life”, e transformaram o Palmer num coral gigante de fãs nostálgicos parque fechar com chave de ouro três dias em Austin, uma das cidades mais bacanas dos Estados Unidos.