Com as três indicações de Ainda Estou Aqui à premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, em 2 de março de 2025, o histórico do Brasil no Oscar, nas mais variadas frentes, ganha novos holofotes.
>> Tudo começa em 1945 com Ary Barroso (1903-1964) que dividiu com Ned Washington (1901-1976) a nomeação para Melhor Canção por Brasil (1944), de Joseph Santley (1889-1971), com a música “Rio de Janeiro”. Venceu “Swinging on a Star”, de O Bom Pastor.
>> Em 1963, O Pagador de Promessas (1962), de Anselmo Duarte (1920-2009), responsável pela nossa única Palma de Ouro em 77 anos de Festival de Cannes, concorreu a Melhor Filme Estrangeiro. Perdeu para Sempre Aos Domingos, da França, dirigido por Serge Bourguignon.
>> Em 1986, a imprensa dos EUA cunhou o título “the Babenco’s year” em referência ao êxito de O Beijo da Mulher-Aranha. A adaptação cinematográfica do romance homônimo de Manuel Puig (1932-1990) foi produzida pela FilmDallas Pictures em duo com a paulistana HB Filmes e recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Filme. Concorreu também na categoria de Melhor Direção, com o argentino naturalizado brasileiro Eduardo Babenco (1946-2016). Acabou que o longa com Sonia Braga só venceu noutra latitude, a de Melhor Ator, com William Hurt.
>> Em 1996, quando nossa filmografia vivia o engatinhar da Retomada, depois de cinco anos de desmonte, com o fim da Embrafilme (1970-1990), a produtora LC Barreto, do casal Lucy e Luiz Carlos, responsável pelo arrasa-quarteirão Dona Flor E Seus Dois Maridos (1976), brigou pelo Oscar com O Quatrilho, de Fábio Barreto (1957-2019), em 1996 (perdeu para o holandês A Excêntrica Família de Antonia.
>> Em 1998, a LC Barreto emplacou O Que É Isso, Companheiro?, de Bruno Barreto. Fernanda Torres estava em seu elenco. O filme perdeu a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro para outro holandês, Caráter, de Mike van Diem.
>> Em 1999, vivemos o primeiro momento Walter Salles no Oscar, quando Central do Brasil foi nomeado para categoria de Melhor Filme Estrangeiro. O Oscar acabou nas mãos de A Vida É Bela (Itália), do ator Roberto Benigni. Na mesma premiação a protagonista Fernanda Montenegro era bem cotada ao prêmio de Melhor Atriz. Perdeu para Gwyneth Paltrow (concorrendo por Shakespeare Apaixonado), num dos resultados mais criticados da trajetória das cerimônias da Academia.
>> Em 2001, a fama de Pelé entre os esportistas da América do Norte fez com sua biografia em pílulas, Uma História de Futebol, de Paulo Machline, com 20 minutos de bola rolando, fosse indicada entre os curtas de ficção live-action. Foi aplaudida, mas não ganhou.
>> Em 2004, Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, brigou por quatro troféus (roteiro, direção, montagem e fotografia), e não levou nenhum. Na mesma cerimônia, o carioca de Marechal Hermes Carlos Saldanha, animador por trás do sucesso A Era do Gelo (2002), foi a campo com o curta-metragem Gone Nutty, popularizando o esquilo-rato Scrat na Academia. Ele voltaria à festa em 2011, com Rio, e em 2018, com O Touro Ferdinando.
>> Em 2005, Walter Salles voltou a rondar a Academia com Diários de Motocicleta, numa festa em que o uruguaio Jorge Drexler cantarolou “Al Otro Lado Del Río” ao receber a estatueta de Melhor Canção pela letra dedicada ao jovem Che Guevara. Naquele momento, o diretor foi essencial para o movimento conhecido como “Nouvelle Vague Latino-Americana” em festivais internacionais.
>> Em 2016, o paulista Alê Abreu teve a animação O Menino e o Mundo indicada ao Oscar. Chegou com o prestígio em alta do Festival de Annecy, a terra santa dos animadores. Perdeu para Divertida Mente, da Pixar.
>> Em 2020, estivemos no Oscar com os documentários Democracia em Vertigem, a cartografia do Impeachment de Dilma Rousseff feito por Petra Costa. Em cartaz no Netflix.