Em 2022, quando o álbum Clube da Esquina fez 50 anos, o Multishow pediu que o Boogarins fizesse uma apresentação tocando as canções do álbum. O que ouvimos foi uma das adaptações mais brilhantes feitas na música brasileira, na qual a essência original está toda ali, com o acréscimo dos timbres e emulações contemporâneas que nos remetem aos anos 1960, mas nos levam para muito além.
De certa forma, Bacuri, o quinto álbum da banda goiana que vem temperando com talento o rock alternativo no Brasil, é uma continuação do projeto que singrou palcos até 2024, incluindo “costurinhas” (como dizem). Isto é, músicas que estão em discos solos do Milton Nascimento e do Beto Guedes.
O sotaque de Bacuri vai na direção do que foi feito pelos mineiros, algo como se o Beto Guedes encontrasse o Tame Impala. Isso fazendo uma comparação simples – e necessária. Ouça “Corpo Asa” e constatará. Veja como “Amor de Indie” traz no título uma referência clara ao clássico “Amor de Índio”, de Guedes. Deixe-se levar pelas conexões melódicas e harmônicas a la Kevin Parker (o sr. Tame Impala) e entenderá. O álbum, no entanto, é muito mais do que isso.
Se um dia o Boogarins experimentou mais (buscou teclados, flertou com o eletrônico), Bacuri é parece colocar a banda no caminho que ela sempre buscou – mais orgânica, com arranjos ricos que valorizam a poesia em letra e canto. Em português, que coisa boa.
Isso, porém, não classifica o Boogarins com uma banda no rock nacional. Essa gaveta é pequena para eles. Com as amarrações muito bem feitas pela engenheira de áudio Alejandra Luciani, uma quase-integrante-da-banda, a sonoridade de Bacuri põe a banda de Fernando “Dinho” Almeida (voz e guitarra), Benke Ferraz (guitarra e sintetizadores), Raphael Vaz Costa (baixo) e Ynaiã Benthroldo (bateria) afinada com o que há de melhor no indie mundial.