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Indie por natureza, A.G. Cook transcende o hyperpop

Ele faz o comercial ser experimental – sem deixar que o público perceba isso

por Robert Halfoun

Quem ouve Charli xcx e a hyperpop “360”, hit de 2024 na Europa e hino viral da campanha de Kamala Harris, nos EUA, não imagina que por trás dela há um esquisitão dos sintetizadores com um pensamento musical tão transgressor quanto inovador. Assim como o pensamento da PC Music, a gravadora que ele criou 21 anos atrás.

Quem ouve a música seguinte de Brat, o álbum da Charli, produzido por A.G Cook, começa então a perceber os sinais da esquisitice brilhante que esse cara é capaz de produzir. E assim vai até o fim do disco, passando por texturas e ritmos hipnóticos como em “Silver Thread Golden Needle” e “Heartache”.

Resumindo, se você ainda não sabe quem é A.G Cook, precisa saber. Ele é uma figura central no cenário atual música contemporânea, o criador do movimento hyperpop, que caracteriza a canção que foi sinônimo do verão europeu – pronta para pista e mega conectada com uma geração que curte uma musiquinha (des) afinada com auto-tunes. Mas que, de repente, está ouvindo um som totalmente experimental.

O segredo de Cook mora aqui. Desde que surgiu em 2013, ele promove uma revolução estética no pop, com uma nova abordagem que funde sons hiper-realistas, vocais processados, melodias cativantes e uma produção que abraça tanto o comercial quanto o que está completamente fora da caixa. Ele diz que gosta de transformar exageros em arte e, não sempre (para evitar o sensacionalismo), questiona a autenticidade na música pop. “Porque a música pop é personalidade.”

O que ele que dizer – e faz! – com artistas como a Charli xcx (a “musa” do pop experimental, o hyperpop), a Sophie e a dupla 100 gecs, entre vários outros nomes, é explorar temas como identidade digital e uma intrigante relação entre o que é gente e o que é máquina. O seu uso de técnicas de autotune e manipulação digital de áudio, por exemplo, redefinem o papel do produtor musical, mostrando como a tecnologia pode ser usada de forma criativa para subverter expectativas.

Na PC Music, lançou artistas inovadores – leia-se Hannah Diamond, Danny L Harle e GFOTY, criando uma espécie de comunidade que celebra a experimentação e, consequentemente, quebra paradigmas.
Para entender a essência da loucura de Cook, Brat, da Charli, diz muito. Mas Britpop, o terceiro álbum do produtor diz muito mais.

Ele é dividido em três discos temáticos — Passado, Presente e Futuro —. com 24 faixas que exploram infinitas possibilidades do pop, num mergulho em quase duas horas de música. A revista Pitchfork o define assim: “É um álbum cheio de sintetizadores brilhantes e vocal gentilmente sentimental. Ele abre um portal entre um universo duro, brilhante e agressivamente contemporâneo e uma dimensão sedutoramente oposta de folclore, fantasia, fuzz rock e magia”.

A NME diz que Britpop carrega em si a incrível capacidade de nunca entediar e manter o ouvinte engajado ao longo de um projeto tão extenso.

Em outras palavras, o disco é genial. Assim como Cook e o que sai da cabeça e dos sintetizadores dele. A edição mais recente da revista Kinfolk, um projeto conectado com tendências contemporâneas em todas as áreas, publica um perfil muito bem feito com Cook. Nele, o autor diz que falar com ele é como conversar com um estudioso genial. Uma única pergunta leva Cook a uma resposta longa e sinuosa, na qual ele percorre uma série de tangentes livres, fazendo perguntas a si mesmo e respondendo-as ao longo do caminho.

Quando perguntado exatamente o que fez de Brat, o inevitável disco da Charli xcx, um sucesso tão grande, ele tem uma resposta tão detalhada e articulada que você quase espera que ele faça uma apresentação em PowerPoint. Também passa muito tempo pensando sobre o que é, o que não é, ou o que poderia ser a música pop. Essa, afinal, foi a pergunta abrangente que governou a abordagem da PC Music.

A gravadora nasceu quando Cook tinha 22 anos e acabara de se formar em computação musical pela Goldsmiths, a faculdade de artes em Londres que tem a reputação de ter um pensamento progressista. Para ele, era muito velho caracterizar a música de computadores como “matemática e desumana”. Como assim, diz, se “todos nós estamos conectados com as máquinas?” “O laptop é como um novo instrumento popular. E a música pop é o campo de batalha certo para mudar conceitos antiquados.”

Enfim, se você chegou até aqui, já deve estar se coçando ou ficará assim ao lembrar que A.G Cook é uma das atrações do C6 Fest, que acontece em maio de 2025, em São Paulo.