Myrna Silveira Brandão, de Nova York
Nesta quinta-feira não teve para ninguém. O grande destaque da 53ª edição do Festival de Nova York foi Michael Moore. Após seis anos longe das câmeras, Moore apresentou seu novo filme, o documentário “Where to invade next” , lançado no Festival de Toronto e com sua première americana aqui, num concorrida prévia para a imprensa. É seu primeiro trabalho desde “Capitalismo: uma história de amor” (2009), selecionado para o NYFF, naquele ano.
“Where to invade next” traz, mais uma vez, o tom de sátira ao sistema americano. Isso acontece desde “Roger Me” – seu filme de estreia mostrado aqui na edição 1989 – que tornou Moore conhecido internacionalmente como um dos maiores antagonistas da política capitalista e intervencionista dos Estados Unidos.
Depois da crítica à cultura de armamentos, à patologia de uma sociedade baseada no medo e ao capitalismo selvagem, o irreverente documentarista retorna a um território familiar: o governo norte-americano, desta vez numa abordagem diferente. Deixando sempre implícito que seu alvo é a política americana, ele viaja para a Europa para destacar ações que deram certo: a política antidrogas de Portugal, os colégios finlandeses e franceses, as prisões modelo da Noruega e outras.
Na coletiva após a projeção – da qual participou o LABORATÓRIO POP – o polêmico diretor, como sempre de jeans e boné, não deixou de expressar seu conhecido engajamento.
O que o levou a fazer esse filme?
O problema de os Estados Unidos estarem envolvidos em guerras infinitas é algo que já me preocupa há bastante tempo. Além disso, alguns anos atrás, quando saí da Universidade, passei uns tempos na Europa e achei uma boa ideia falar das coisas que abordo no filme.
Por que só mostrou coisas elogiáveis dos países citados no filme?
Pode parecer isso, mas no filme eu procurei separar o joio do trigo. Claro que nesses países também há problemas.
O tom de sátira foi intencional?
O que mostro em “Where to invade next” é algo que me preocupa há algum tempo e daí provém o viés satírico do filme.
Qual o papel do capitalismo nisso tudo?
Como já foi objeto de um filme meu, o capitalismo beneficia os ricos e condena milhões de pessoas à pobreza. São fatos correlatos.
Por que vinha mantendo o filme em total sigilo e só informava que era um épico?
“É um filme de natureza épica, mas acima de tudo é um alerta de fatos e situações que prejudicam milhões de pessoas, não só aqui, mas no mundo todo”.
Qual resultado espera com o filme?
“É importante que aconteça algo e espero isso com meus filmes. Imagens podem mudar as pessoas. A imagem daquele menino morto na praia, por exemplo, já mudou muita coisa na política da Alemanha no tema” (foto do menino sírio afogado numa praia da Turquia, que virou símbolo da crise migratória).