RODRIGO FONSECA
Enquanto fãs estadunidenses do inglês Christopher Nolan lotaram salas de cinema neste fim de semana para prestigiar a reestreia de “Interestrelar” (2014), na comemoração dos 10 anos do lançamento dessa antológica sci-fi, entusiastas do diretor no Brasil vão finalizar esta noite nas sombras da Gotham City idealizada por ele em “Batman Begings”. A produção de 150 milhões, que faturou US$ 375 milhões, é a atração deste domingo maior, com Ettore Zuim dublando o galês Christian Bale. A transmissão será às 23h55, na Globo. A trama acompanha a conversão do milionário Bruce Wayne (Bale) no cruzado mascarado inspirado por quirópteros. Em sua gênese como vigilante, ele vai encarar o psicólogo degenerado Espantalho (Cillian Murphy) e o terrorista Ra’s Al Ghul (Ken Watanabe).
Dois elementos guiam a dramaturgia cinematográfica de Nolan: culpa e necessidade de controle. Há uma mistura covalente de ambos no combustível afetivo que alimenta os motores de “Batman Begins”, que ganhou duas continuações, em 2008 e 2012. Na bifurcação de elementos essenciais à grafia do diretor, o primeiro a se apresentar como argamassa onipresente em sua obra foi a culpa. Tal onipresença, somada a um enorme talento para esculpir mágoas e ressentimentos, tem feito dele um realizador autoral. De “Amnésia” (2000) ao onírico “A Origem” (2010), passando pelo subestimado “Insônia” (2002) e por toda a trilogia de Gotham, é caro a ele transitar por um limite de dívida moral. Há em seus personagens a sequela de um erro que os impele a ações eticamente duvidosas. É o que se vê em sua obra-prima, “Oppenheimer”, coroada com sete Oscars este ano, incluindo o de Melhor Direção. Do lado esquerdo do ringue de sua invenção, aparece a necessidade atávica do controle em seus heróis, os mascarados e os de cara limpa. Do investigador tatuado e amnésico vivido por Guy Pearce há duas décadas ao Homem-Morcego com a fleuma galesa de Bale, os personagens centrais da obra de Nolan são movidos por uma onipotência que fazem deles os senhores da certeza. Todos acreditam ter pleno domínio da engenhoca chamada mundo no microcosmos onde vivem.
Neste momento, Nolan prepara um novo longa, com Matt Damon, Zendaya, Charlize Theron e Robert Pattinson.