Era 1977 e havia cinco anos desde que o Jethro Tull lançara o antológico Thick as a Brick, o grande disco da banda (ok, você pode dizer que é Aqualung, de 1971) e um dos maiores da história do rock. Nesse meio tempo vieram outros álbuns, nenhum deles chegando perto da excelência que, sabíamos, Ian Anderson poderia entregar.
Então, a partir de uma profunda imersão no folk britânico tradicional misturado com a forma Jethro Tull de fazer rock progressivo surge Songs from the Wood. O primeiro álbum de uma trilogia de outros dois com influências folk, Heavy Horses (1978) e Stormwatch (1979).
Enfim, Anderson voltara a ficar gigante. Exalando cheiro de lenha queimada com o ar fresco de uma caminhada no bosque (quem já viveu isso, basta ouvir a fixa título e logo entenderá), o disco traz canções belíssimas com arranjos tão intrincados quanto envolventes. Que obra apaixonante, senhoras e senhores.
Um dos fãs apaixonados é o destilador de bebidas Roberto Payá da Weisshorn Distillery – El Barco del Arroz, em Cádiz, na Espanha. Como, ele diz, ouve clássicos do prog enquanto faz as suas alquimias, resolveu unir a sede pela música com a vontade de beber e criou um curioso amplificador, o SoundCask, que capta a vibração sonora e a faz reverberar diretamente nos barris que envelhecem as bebidas.
Sim, o amp é plugado no tonel, enquanto reproduz os discos que Payá escolhe. Songs from the Wood é um deles e embalou a produção do rum homônimo por 587 horas, em 14 meses, com duas sessões por dia. A experiência, garante o destilador, “realça os aromas e sabores da bebida uma vez que as ondas sonoras fazem o barril vibrar.” E mais: de acordo com o repertório escolhido.
Difícil dizer se o fenômeno acontece de fato – embora a teoria faça sentido. O que sabemos é que o Songs from the Wood, o rum, é um destilado fino
com sabores que lembram baunilha e o tostado da madeira, típico dos bourbons, graças ao envelhecimento em barris de carvalho americano, queimados antes do seu primeiro enchimento.
A primeira edição da bebida conta apenas com 342 garrafas e uma série de mais quase 500 agora vibra ao som de joias como “Jack-in-the-Green” e “The Whistler”. Quando pronta, cada garrafa será vendida na Europa por 70 euros, preço regular para destilados de alta gama.
Enquanto ela não vêm, estão à venda o gim Aqualung e a vodca Thick as a Brick, produzidas de acordo com o mesmo processo de “audição”.
De volta a Sounds from the Wood, o álbum, vale lembrar que em 2017, no aniversário do seu lançamento, o disco ressurgiu remixado pelo craque Steven Wilson, produtor conhecido por sua abordagem meticulosa ao remixar álbuns clássicos de rock progressivo. Basicamente (que de básico não tem nada), o que ele faz é aprimorar as gravações originais, preservando seu caráter autêntico. Resultado: o que era bom fica ainda melhor.
A box do álbum, conhecida como “The Country Set”, é uma obra rara na qual, entre outros, conta com um livro de 96 páginas com anotações faixa a faixa de Ian Anderson.