RODRIGO FONSECA
Nascida em terras bascas, em 1983, Jaione Camborda agora passa a ser “prata da casa” em San Sebastián, ao ganhar a Concha de Ouro de 2023, em sua região de berço, com a coprodução ibérica “O Corno”. O júri presidido por Claire Denis (a cultuada realizadora de “Stars at Noon”, “Com Amor e Fúria”, “Nanette e Boni”) saiu deslumbrado da première mundial do longa dirigido por Jaione, que se passa em 1971. O cineasta luso Rodrigo Areias é uma das grifes da produção do filme, que foi forografado por Rui Poças, com requinte visual notável.
Ambientado na fronteira entre Espanha e Portugal, nos afluentes do rio Minho, “O Corno” fala sobre aborto. Sua trama narra a fuga de uma parteira (Janet Novás) que, ao ajudar uma jovem a dar fim a uma gravidez não desejada, vira alvo da Lei.
“Silêncio na observação, ao colher relatos, foi algo fundamental para falar de uma mulher que ajuda a trazer bebês ao mundo”, disse Jaione ao LabPop em San Sebastián. “É uma ficção que nasce de muitos testemunhos, com uma atriz principal que tem a experiência do balé em seu trabalho de corpo”.
Ímã de gargalhadas entre os 16 concorrentes à Concha no evento do norte espanhol deste ano, a comédia argentina “Puan”, feita em parceria com Brasil, rendeu a láurea de Melhor Roteiro para sua dupla de diretores, María Alché e Benjamín Naishtat. Seu protagonista, Marcelo Subiotto, conquistou a láurea de Melhor Atuação do festival, dada também (em empate técnico) ao japonês Tatsuo Fuji por “Great Absence”. Já a láurea de Coadjuvante foi entregue a Hovik Keuchkorian, por “Un Amor”.
Na categora Direção, a Concha de Prata foi para Taiwan, entregue a dois estreantes em longas: a realizadora Ping-Wen Ang e a seu colega Tzu-Hui Peng por “A Journey In Spring”. O Prêmio do Júri foi para a Escandinávia dado a “Kalak”, da sueca Isabella Eklöf. O longa recebeu ainda a láurea de Melhor Fotografia, dada a Nadim Carlsen.
Na mostra Horizontes Latinos, a herança marxista do cinema argentino se fez vencedora com a coroação do drama de tons sociais “El Castilo”, de Martín Benchimol. Já a láurea de Júri Popular da mostra Perlak foi para “A Sociedade da Neve”, de J. A. Bayona, sobre a tragédia dos Andes de 1972, envolvendo a queda do avião da seleção uruguaia de rúgbi. Em paralelo à premiação, San Sebastián exibiu o filme surpresa “O Assassino”, de David Fincher, e fez uma sessão de gala de encerramento com “Dance First” – cinebiografia do dramaturgo Samuel Beckett, com Gabriel Byrne.